Esse texto foi escrito a nosso pedido por Matuza, jovem que acreditamos e sempre escutamos atentamente!

Na história de cuidado as questões de saúde mental já houveram momentos de desacertos ao cuidado com os sujeitos, como toda a questão da luta antimanicomial nos mostra. No que se refere ao cuidado ou forma de lidar com os usuários de álcool e outras drogas, não é diferente.
É sabido que ao longo da história da humanidade, nós seres humanos, sempre encontramos nas substâncias psicoativas, uma forma de lidar com dores, frustrações, angústias, até mesmo com negligência do estado, fuga da realidade, ou simplesmente como forma de recreação. São infinitos os motivos que levam os sujeitos ao uso de drogas.


Algumas vezes, esse uso se torna abusivo e os sujeitos precisam de ajuda. Nos últimos 30 anos conseguimos iniciar um processo de reparação e cuidado a estes sujeitos, embasado na liberdade e não no juízo de valor: a redução de danos.
A Redução de danos nasce do encontro de pares. Por isso, é urgente relocalizarmos esse conhecimento sobre autonomia que foi produzido a partir dos territórios e usuários. Com isso vamos entender como a redução de danos é chave para abertura de diversos debates e lutas, em especial a luta antiproibicionista, que nasce e atua pela autonomia dos corpos e mentes.


São diversas as contribuições da redução de danos para e organização da luta antiproibicionista, com destaque para as ações interseccionais e coletivas protagonizadas pela RD, que envolve diversos atores e setores sociais, possibilitando a articulação das lutas contra os modelos opressores (capitalistas, patriarcal, racista e homofóbico) como estruturantes para garantia da autonomia plena dos corpos.


O amadurecimento da luta antiproibicionista se insere neste contexto da grande articulação com o movimento de juventudes, feministas, negros, LGBTQI+, antimanicomial, pelo direito a cidade, entre outros que têm possibilitado a construção de um projeto político de sociedade que evidencie nossas diversidades, e possibilite a atuação coletiva.
A redução de danos oferece ao antiproibicionismo ferramentas de organização e resistência para as pessoas que usam drogas, principalmente na cultura de ocupação da ruas, de ações direta e de luta contra a repressão.
O modelo posto pelo sistema está pautado no controle, na proibição e punição, onde sua lógica se retroalimenta por macro e micro fascismo. O movimento antiproibicionista não quer apenas criticar a guerra as drogas, que na verdade é a guerra a um determinado grupo social, que lota os presídios e criminaliza principalmente os jovens pobres, negros e periféricos. Propomos alternativas concretas, que são reproduzidas em diversos países do mundo, e comprovam que o cuidado através da garantia de autonomia e o caminho para lidar com os danos causados pelas drogas, com foco na saúde, na liberdade e no bem-estar-social.


A experiência são longo destes anos de Redução de Danos só confirmam que nossa atuação deve estar centrada nas pessoas, não nas substancias, evidenciando a garantia da autonomia e das subjetividades.

Somos corpos falantes, e permanecemos denunciando os modelos de controle que atuam através de um regime soberano, disciplinatório farmacológico. Estamos a ultrapassar os limites impostos a liberdade dos corpos, vencendo esta produção de sentidos e criando uma nova realidade, onde a Redução de Danos é a base da luta antiproibicionista, e permanece na produção de resistência e saberes produzido no encontro de pares e na ocupação dos territórios.


Porém em um cenário nacional marcado pelo conservadorismo radical que insiste em atacar os direitos conquistados ao longo das últimas décadas, a retirada da redução de danos da política nacional de drogas marca um retrocesso desmesurado agravado, na área da saúde, o cuidado as (aos) usuárias (os).
Sob o ponto de vista legal, o cerceamento ao direito de escolha, marcado pela ignóbil lei de drogas do pais, retrata em seus dados encarceramento massivo de negros, mulheres, jovens e pobres, a parcialidade desta lei, bem como, sua total ineficácia. A proibição somente agrava danos, aumentando a violência, o risco de overdose e o desvio de bilhões que poderiam ser aplicados na prevenção com a disseminação ampla de informação, pois, é o acesso a informação de qualidade que impactaria na sensibilização e educação preventiva, bem como na construção de estratégias eficazes de enfrentamento.

Falo de um lugar de empatia, por ser usuário de múltiplas drogas e trabalhador da rede de saúde mental de B.H, onde atuo como Redutor de Danos, na clínica AD durante anos.
Fiquemos atentos a forma de cuidado que ao invés de ser embasado na singularidade e na liberdade, dão preferência ao aprisionamento e a retirada destas pessoas do convívio social, no território.

Matuzalem Maycon Araujo Santos – Redutor de Danos, Oficineiro, ativista social,Palestrante, Conferencista, e Consultor de políticas e acesso de políticas a POP RUA e usuários de álcool e outros psicoativos e consultor de territórios de uso de psicoativos.

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