Anna Cláudia escreveu esse texto em dezembro 2016 para a Revista Anchieta em Casa. Foi republicado em dezembro de 2017 no site Ser em Relação. Abaixo, uma reprodução.
Certezas Provisórias
Com a chegada de dezembro, inevitavelmente iniciamos um movimento de “balanço de final de ano”. Começamos a avaliar o que valeu a pena e o que foi duro e difícil no ano que se finaliza. Esse foi um ano intenso, isso é inegável. O contexto social, econômico e político do país segue angustiando a todos.
Diante de tantas incertezas, é comum a percepção de que o que havíamos planejado se mostrou inadequado para a realidade. É sempre importante planejar e ter um foco, mas ao mesmo tempo, é necessário lidar com a vida tal qual ela se apresenta e adequar os rumos a partir do que encontramos ao longo do caminho. Uma série de planos e propostas (típicas dos planejamentos de início de ano) devem ser revistos e reajustados de acordo com novos cenários. Isso não deve acarretar uma frustração excessiva e uma sensação de que houve um fracasso definitivo. Ajustes são parte do processo. A questão é não entrar num movimento conformista como se não houvesse o que fazer. Replanejar, reorganizar e recomeçar. E mesmo rever o que se quer mais.
Essa avaliação sobre o que queremos é um movimento eterno. Nosso desejo é como uma criança inquieta: não para! Está sempre dançando e mudando de lugar. Assim, o movimento de se olhar e responder a pergunta “o que eu quero agora? ”, é infinito. Sempre é necessário retomar o contato com o próprio desejo e perceber onde ele está. Muitas vezes o que queríamos ao começar uma atividade ou projeto já não permanece após o projeto estar em andamento… O que acontece é que estamos sempre em mudança e, às vezes, a pessoa que somos ao fazer os planos já não é a mesma que somos ao avaliar o que aconteceu e o que não aconteceu.
Nossa identidade está sempre em mutação. Isso significa que somos volúveis ou instáveis? Não. Isso significa que estabilizamos por um tempo para conseguir seguir vivendo, mas há sempre pontos de corte e de ruptura que permitem reinvenções e mudanças. Em uma palestra há uns anos, escutei a expressão “certezas provisórias”. Ela traduz esse movimento de estabilizar quem somos e o que queremos e ao mesmo tempo ter clareza de que isso passará. De fato, já nos ensinam as tradições orientais, a mudança é a única constante no viver.
Fazer o balanço de final de ano com a lente das certezas provisórias é permitir um olhar acolhedor para nossas angústias e dúvidas. A vida não é uma linha reta. O ponto central é, mesmo no turbilhão, buscar uma forma de desacelerar para se perguntar: diante de tudo que estou vivendo, o que quero agora?
Esse foi um ano de certezas provisórias. Que venha o próximo talvez com incertezas definitivas!