Conversar em família sobre sexualidade com crianças e adolescentes é uma tarefa para ser feita cotidianamente, à medida que as crianças e adolescentes forem trazendo questões. Não precisa de ter um momento formal em que todos sentem a mesa para ter a “tal conversa”.

Chamamos isso de educação sexual informal, aquela que acontece cotidianamente, em nossas relações, no jeito como vivemos, no jeito como comentamos um programa de televisão, no jeito como tratamos um ao outro, nos assuntos que conversamos e nos assuntos que silenciamos. A educação sexual informal é muito forte e produz marcas muito profundas em nossa forma de encarar a sexualidade. Então, é importante que os adultos de uma família discutam suas perspectivas sobre sexualidade para que estejam alinhados sobre quais valores querem passar para as crianças e adolescentes que educam.

É importante que os adultos discutam o que pensam sobre virgindade, iniciação sexual, cultura do estupro, consentimento, equidade de gênero, diversidade sexual, aborto, masturbação, contracepção, privacidade na internet, entre outros temas para que, quando surgir uma pergunta ou uma situação cotidiana em que o tema apareça, os comentários sejam convergentes com o  posicionamento que a família escolheu.

Um livro da Jimena Furlani é bem interessante para fomentar essa discussão entre famílias: Mitos e Tabus da Sexualidade Humana. Nele, Jimena apresenta de forma clara e com linguagem simples discussões sobre, por exemplo, “mito do corpo perfeito, mito do tamanho do pênis, mito do uso da camisinha masculina, mito do consumo do álcool sobre a atividade sexual”, entre outros. E também aborda tabus como “tabu contra a iniciação sexual feminina antes do casamento, tabu contra o sexo na 3ª idade, tabu contra o adultério feminino”, entre outros.  Ela também fala sobre masturbação, homossexualidade, virgindade. Esse livro é para ser lido pelos adultos para terem mais informações e conversarem.

Outra literatura que tem muita potência para a educação em sexualidade são os livros escritos diretamente para o público infanto-juvenil.  Cada família deve ler o livro antes de oferecer às crianças e adolescentes e avaliar, de acordo com a maturidade daquela criança específica e as dúvidas que aquela criança tem trazido, se é um livro para aquela criança.

A maior parte dos livros são para leitura mediada por um adulto. Claro que quando estamos falando de adolescentes é importante que eles leiam sozinhos, embora boa parte dos adolescentes está encontrando informações na internet. Isso é positivo por um lado, já que com os smartphones eles têm conseguido sanar dúvidas rapidamente, mas também é um risco já que nem sempre as informações são confiáveis. Também é uma preocupação para nós que trabalhamos com educação em sexualidade a quantidade de jovens que tem formado perspectivas sobre sexualidade a partir de filmes pornôs, hoje muito mais acessíveis exatamente pelos smartphones. Uma das preocupações é que nos filmes pornôs, normalmente, a vivência da sexualidade feminina é objetificada e a performance masculina exibe uma potência irreal e que gera uma expectativa nos jovens que é inatingível.   Aqui uma reportagem interessante sobre a questão dos filmes pornôs e a formação dos jovens.

Alguns livros que gosto para discutir sexualidade com crianças e adolescentes

  1. Trilogia da Ceci:
    1. Ceci tem pipi? No livro Ceci tem pipi?, a questão da diferença corporal entre meninos e meninas é abordada, extrapolando para as crenças culturais que são construídas sobre essas diferenças, como meninos são mais fortes e meninas são mais delicadas. De uma forma leve e lúdica, Thierry Lenain, aborda que existem diferenças corporais, mas que isso não precisa ser transformado em desigualdades.
    2. Ceci quer  um bebê: nesse livro Ceci quer ter um bebê e acha o máximo o barrigão. É explicado de forma bem lúdica que crianças não podem ter bebês e que isso é só quando ela for adulta.
    3. Os beijinhos da Ceci: nesse livro, a amizade de Ceci e Max adquire um jeito abusivo e Ceci começa a fazer exigências cada vez mais terríveis para que Max ganhe seus beijinhos. É um livro que considero particularmente interessante para se abordar a questão dos limites nas amizades e nos relacionamentos: até onde eu vou seguir ordens de amigos? Até onde vou me privar de fazer o que eu quero para ter o afeto do outro?

2) Sementinhas de fazer Bebês: de uma forma muito leve, Thierry Lenain e Serge Bloch apresentam a forma como as sementinhas da mamãe e do papai se juntam para fazer os bebês e mostram com leveza as possibilidades: relação sexual, inseminação artificial ou fertilização in vitro. A pergunta seguinte é: ok, já entendi como entra, mas e como que o bebê sai da barriga da mamãe. Novamente, de forma bastante leve, os autores mostram o parto vaginal ou a cesariana como as opções para essa saída da barriga.  Vejam que a Rosely Sayão deu consultoria na tradução.

 

3) Mamãe botou um ovo– Babette Cole: Eu adoro a Babette Cole! Nesse livro, com ilustrações muito boas e um texto muito divertido, ela aborda os vários mitos sobre “de onde vem os bebês” de forma leve. E, ao final, é explicada a relação sexual e a “junção das sementinhas”

4) Mamãe nunca me contou– Babette Cole – Nesse livro, com ilustrações lindas e também de forma divertida e leve, Babette Cole aborda temas que são tabus em nossa sociedade e que “mamãe nunca me contou”, como a homossexualidade, o envelhecimento, a morte. Vale muito a pena!

5) Mamãe como eu nasci– Marcos Ribeiro- Nesse livro, Marcos Ribeiro ( um autor brasileiro que é referência na educação em sexualidade) apresenta de forma bem didática temas como desenvolvimento corporal de homens e mulheres, ereção e menstruação, relação sexual, gravidez, parto normal e cesariana, corte do cordão umbilical, masturbação. É um livro bem didático, com ilustrações e informações biológicas.

Claro que existem mais livros e nossa ideia é sempre atualizar esse post, mas aí já tem um bom começo de conversa!!

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