Anna Cláudia escreveu esse artigo para a Revista Anchieta em Casa em junho/2016. Posteriormente foi publicado também no site Ser em Relação. Abaixo uma reprodução.
Namorar é alegria de conviver
No Brasil, o mês de junho é considerado o mês dos namorados. No dia 12 de junho, restaurantes, floriculturas, lojas de presentes ficam bastante movimentadas. O comércio é sempre atento às mudanças de comportamento. Com isso, as campanhas publicitárias de dia dos namorados vêm mudando. Já se observam propagandas que incluem casais do mesmo sexo, que discutem a questão dos namoros virtuais e do lugar das redes sociais nas relações afetivas contemporâneas, por exemplo.
Fiquei me perguntando o que seria namorar hoje em dia. Pensei em começar escrevendo que o namoro é como um treino e que o casamento é como o jogo. Nessa metáfora, teríamos o namoro como aquela fase preparatória e prévia ao momento em que a relação é “pra valer”. Daí, pensei em vários casais que conheço que optam por namorar sempre e não pretendem casar. Estão confortáveis em ser namorados. Assim, o namoro não é uma fase prévia a outra, mas a vida afetiva definitiva daquela dupla. Aí ao escrever a frase anterior, e dizer “dupla”, lembrei-me de um programa de televisão que recentemente discutiu relações afetivas com mais pessoas. E pensei que não dá pra dizer que namorar é coisa de dupla, já que existem trios e grupos (com diferentes configurações) que estão namorando e buscando formas afetivas de estarem juntos. Todas as tentativas de escrita que fecham a questão me soam impossíveis. Porque não existe uma fórmula. Não existe uma receita. Existem buscas diárias pela alegria de conviver. Namoro talvez seja isso: movimentos em busca de alegria, de afeto, de companheirismo. E vamos escolhendo com quem conviver mais tempo, a partir de conversas, de experiências… a partir das sensações que o estar junto traz.
Tem um ponto, entretanto, que eu acho que namoro não deveria ser: migalhas. Deixa eu me explicar. Migalhas pra mim é quando as pessoas que estão envolvidas no namoro não estão dispostas a disponibilizar um tanto de “pão” para a relação. Assim, alguém fica dando migalhas para a relação e a outra(s) pessoa(s) ou morre de fome ou fica tentando colocar um pão inteiro na relação. Esse desequilíbrio de engajamento na relação acaba produzindo muito sofrimento. No conto do João e Maria eles tentaram sinalizar o caminho que percorreram com migalhas de pão. Os passarinhos vieram e comeram todas as migalhas e eles ficaram perdidos. Sempre que penso nesse conto vejo como as migalhas são inúteis para nos proteger. Vejo muita gente aceitando migalhas de amor. E migalhas não enchem barriga (muito menos o coração) de ninguém. É preciso buscar relações em que as pessoas estejam dispostas a estar juntas, com as negociações e aberturas que isso implica. Disponibilidade para o outro significa estar disposto a conciliar projetos coletivos e ter espaço para os projetos individuais.
Nossa sociedade tende a romantizar as relações afetivas criando padrões únicos. Existem diversas formas de amar e ser amado. Mas será que migalha pode ser considerado um padrão? Não desejo normatizar e prescrever uma única forma de relação. Porém, quero sim prescrever que todo mundo busque um pão inteiro e que não se contente com migalhas! Feliz Dia dos namorados!